O medo de errar é um fator impactante na vida adulta. Ele sempre aparece na hora que é preciso tomar uma decisão importante. E o que isso tem a ver em como educar crianças de forma respeitosa?
O medo de errar começa a tomar forma ainda nos nossos primeiros anos de vida e é capaz de bloquear uma carreira ou a vida pessoal. Certamente, você já deixou de fazer algo por medo de errar.
E você não é a única pessoa.
É comum encontrar pessoas que tenham medo de errar quando há a necessidade de mudar de carreira, por exemplo, ou quando se tem uma nova ideia. O medo de errar aparece ali como mais um obstáculo perante aquela pessoa que quer avançar na vida.
É comum encontrar adultos que tenham até medo de inovar, de colocar em prática uma ideia diferente. Isso acontece porque foram criticados pelos seus erros durante a infância. Ou seja, como se não bastasse ter que enfrentar o medo de errar que é normal, essas pessoas precisam lidar com o medo de ser criticado e até de sofrer alguma violência.
Para um pai ou uma mãe que foi criado assim, é comum que reação seja semelhante àquela de que eles foram criados.
Nesse texto, você vai descobrir como esse medo de errar é construído na infância, quais são as consequências que isso acarreta para o indivíduo e o que pode ser feito para evitar. A partir de situações do dia a dia, serão sugeridos diálogos e atitudes do adulto, de acordo com a teoria da Disciplina Positiva. Muitas dessas dicas, já são compartilhadas o perfil da 1manas do Instagram diariamente.
Primeiro, é necessário entender como acontece o desenvolvimento de crianças de 0 a 6 anos. A criança 0 a 6 anos é um ser que está em uma fase de aprendizado intenso.
Isso quer dizer que cada ação e cada observação geram aprendizados. E, cada brincadeira, faz parte de uma grande experiência. Como a criança não sabe ainda como funcionam os objetos, não sabe como funciona o seu corpo, não sabe como você funciona, ela se movimenta como uma grande cientista.
Esse pequeno pesquisador do mundo vai arremessar brinquedos, amassar comida, derrubar objetos no chão, transferir líquido de um recipiente para outro, jogar água no chão, rasgar papel, bater, puxar cabelo, observar a natureza…
Uma criança que tem liberdade para conhecer o mundo ao seu redor passa o dia fazendo experiências. Jogar o brinquedo, por exemplo, é uma experiência de força.
Tentar colocar o suco em um copo ou apenas beber um suco é uma grande experiência de coordenação motora. Encaixar o brinquedo de maneiras diferentes é uma forma de experimentar as diferentes formas de usar o brinquedo. Tentar vestir a roupa usando uma estratégia diferente é uma forma de conhecer o seu corpo e a roupa que ele veste.
Cada uma dessas atitudes tem um porquê. Cabe ao adulto usar a sua maturidade para compreender, orientar e adequar o ambiente às experiências que as crianças precisam viver. Acontece que estamos acostumados a não permitir que a criança explore o mundo ao seu redor.
Muito adulto acha um grande equívoco quando a criança tenta colocar objetos enormes em lugares muito pequenos. É óbvio para o adulto que aquele objeto não vai caber, mas para a criança não é óbvio.
Além disso, ela quer descobrir por si mesma porque aquilo não cabe. Ela nunca viu aquele objeto, ela não sabe como ele funciona. Tudo é novo para ela. E é por isso que as crianças precisam ter a chance de tentar, precisam ter a chance de experimentar, de testar e de cometer erros. Só assim elas conseguirão aprender por si mesmos.
Acontece que, muito adulto, nesse momento que vê a criança tentando e não conseguindo, retira o objeto da mão da criança e diz “não é assim. Vou te mostrar como faz”.
Toda a chance que a criança tinha de aprender com seus próprios erros vai por água abaixo. O adulto faz isso não só pela falta de paciência, mas pela falta de compreensão que, para a criança, não importa apenas o resultado, mas também todo o processo para chegar ao objetivo.
A criança não quer apenas colocar o brinquedo dentro de uma caixa e pronto. Ela quer entender todo o funcionamento que está por trás do brinquedo e as diferentes formas de colocar o brinquedo grande em uma caixa pequena.
Tem também o adulto que fica irritado com a criança quando, em uma das tentativas, acaba quebrando algo ou sujando a casa.
Esse é um gatilho para muitas pessoas que passaram por situações semelhantes na infância e foram agredidas fisicamente ou verbalmente.
E esse é o momento de olhar para essa criança interior e perdoá-la. Dizer que está tudo bem cometer erros. E tentar compreender e aceitar que o prejuízo não é proposital.
E, mesmo depois que o adulto já tenha consciência de que não é proposital, é essencial saber a importância de respirar fundo e contar até dez até tomar qualquer atitude depois que a criança fez algo que desagradou.
Boa parte da bagunça da casa, boa parte dos acidentes que ocorrem não acontecem porque a criança está testando a paciência dele ou porque a criança é bagunceira. A criança não está jogando o brinquedo porque ela é má. Ela está jogando o brinquedo porque ela está testando as habilidades dela.
A partir do momento que o adulto compreende o período de desenvolvimento pelo qual a criança está passando, o olhar do adulto a respeito do comportamento da criança se transforma completamente.
Fica mais fácil de aceitar e menos estressante porque o adulto sabe que a criança não faz porque quer irritar o adulto, não é uma questão pessoal. Mais pra frente, você poderá ver como agir nesses momentos, usando recursos que colocam a criança como um ser que deve ser respeitado, com técnicas que ensinam a longo prazo.
Aqui você encontra um curso da 1manas que vai te guiar por esse caminho e pode te ajudar a se conhecer e a encontrar uma forma de manter a calma nesses momentos.
A criança, certamente, não tem habilidades motoras ou cognitivas para compreender sobre quanto custou um brinquedo ou o valor de uma TV ou como segurar um objeto sem derrubar.
Uma menina ou um menino precisa de tempo parar aprender. E precisa cometer erros sem ter medo de que alguém vai brigar com ela.
Acontece que alguns desses erros que as crianças cometem frustram o adulto. É o brinquedo ou um objeto de decoração que quebra, é a nota abaixo do esperado, é a briga com o colega…
Vou te contar uma coisa: a criança também se sente frustrada quando comete esses erros.
“Ah, mas se eu não brigar a criança vai fazer outras vezes”. E se você brigar, ela também vai fazer outras vezes. Porque não depende somente dela, mas também do desenvolvimento motor e cognitivo.
A criança que quebra algo ou suja precisa ser acolhida, redirecionada e orientada. O adulto precisa mostrar que está tudo bem, sem se exaltar, de forma respeitosa.
E tenha certeza de uma coisa: os acidentes vão reduzir consideravelmente se houver um ambiente seguro e preparado e se a criança for estimulada a treinar para desenvolver ainda mais as habilidades – no entanto, isso depende de a criança treinar ou não.
E, para a criança ser capaz de treinar ela precisa não ter medo de errar. A criança tem 24 horas para explorar ao máximo o mundo ao seu redor e vai aproveitar isso tudo. Sem medo. A não ser que… alguém aja de forma agressiva física ou verbalmente repreendendo o erro.
Muitos adultos brigam, reprovam, ao invés de acolher e mostrar o amor incondicional. Isso faz com que a criança se sinta pior ainda já que o adulto passa o tempo aponta ainda mais o erro.
E, assim faz com que essa criança sinta que não é amada quando erra. E é aí que surge o medo de errar. Vamos entender como isso acontece.
Uma cena muito comum é quando a criança derruba o copo de suco na mesa. A criança, que está em sua fase de desenvolvimento de habilidade, recebe a resposta dos pais.
Aqueles que perdem a paciência ou que acham que é certo punir a criança, reagem com essa cena a aos gritos “Você não consegue segurar o copo sem derrubar?! Vai limpar tudinho agora!”
Só que essa criança que cresce sendo repreendida pelo erro passa a ter medo de errar novamente e, por isso, deixa de tentar coisas novas. Ou mente quando erra para não ser repreendida.
Como quando uma criança tira nota baixa na escola. Ela mostra o boletim e o pai ou a mãe brigam e a deixam de castigo, sem celular. A próxima nota baixa que essa criança receber, provavelmente, ela vai esconder dos pais. E aí vai falsificar a assinatura no boletim ou a nota na prova… Ela vai fazer de tudo para não ser pega novamente.
A criança que é punida ou que é recebida com agressividade após cometer um erro para de testar e querer inovar, e passa a dar preferência a situações que façam com que ela permaneça em um território que ela já conhece e sabe que dá certo – na maioria das vezes.
E por que isso é um problema? Bem… Isso é um problema porque seu filho nunca vai querer inovar. Nunca vai querer tentar algo que não seja óbvio! O profissional do futuro precisa ter essa habilidade!
Eu vejo muitos pais e mães preocupados com a nota que a criança tirou em determinada disciplina. Colocando a criança em vários cursos após a escola. Eles fazem isso porque estão preocupados com o futuro da criança. Mas sabe o que realmente vai fazer diferença lá na frente? Sabe quais habilidades realmente importam para esse indivíduo do futuro? Essas aqui:
- Pensamento analítico e inovação
- Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado
- Criatividade, originalidade e iniciativa
- Liderança
- Inteligência Emocional
- Pensamento crítico
- Resolução de problemas complexos
- Resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade
- Programação
- Ser orientado aos serviços para o cliente
- Raciocínio lógico
- Experiência do usuário
- Uso, monitoramento e controle de tecnologias
- Análise e avaliação de sistemas
- Persuasão e negociação
Ou seja, fazendo o seu filho ter medo de errar, você estará tirando dele a possibilidade de adquirir algumas dessas habilidades necessárias para o profissional do futuro, listadas pelo Fórum Econômico Mundial.
É comum ficar impressionado com essa lista porque ela não está exigindo conhecimentos em robótica, ciências ou história. Não mesmo.
E isso é porque já se sabe que as profissões, devido à inteligência artificial, estão em constante mudança. Então, pode ser que, daqui há 10, 20 anos, elas nem existam mais.
Por isso, esse ser humano precisa estar preparado para lidar com o outro, a resolver problemas, a ter empatia e a inovar. É preciso formar adultos que não tenham medo de tomar decisões ou contar sobre a sua ideia. Adultos que não saibam apenas fazer tarefas que uma máquina, um dia, poderá fazer.
Errar é normal e é esperado. Vamos refletir sobre como um escritor faz para escrever um livro? Já pensou que, antes de escrever um livro, esse mesmo escritor costuma ter vários rascunhos? É isso.
Existem mais poemas no lixo do que publicados. Mas é difícil aceitarmos porque boa parte da geração de adultos hoje aprendeu o erro é algo negativo. E os adultos falavam o que as crianças podiam ou não fazer e, em caso de não seguir à risca, eram corrigidas com gritos, castigos e palmadas.
Da mesma forma que, quando uma criança acertava era premiada. E, com isso, essas pessoas cresceram aprendendo que errar é ruim, que ela não pode cometer erros, quem comete erro é fracassado, e, claro, se cometer erro, deve esconder dos outros. E, assim, o adulto forma uma criança que se sente fracassada, culpada e frustrada
E é nisso que a 1manas propõe trabalhar. O objetivo é mudar a visão perante a um erro e, portanto, as nossas atitudes. Um dos mais importantes ensinamentos de Jane Nelsen, a criadora da Disciplina Positiva, é que errar é uma oportunidade de aprendizado! E é com essa visão que o adulto precisa passar a enxergar cada erro da criança.
A 1manas tem como objetivo melhorar a relação entre pais e seus filhos e, para isso, oferece alguns cursos que podem te ajudar a compreender melhor o cérebro da criança e como reagir a essas situações.
Tudo, tudo mesmo, pode ser usado para aprender algo. Em seguida, algumas situações e sugestões de diálogo para você poder usar em casa com seu filho.
A criança derrubou o copo de suco na mesa:
O adulto pode falar “Derrubou o suco, foi? Não tem problema. Vamos juntos pegar um pano para limpar.” Se a criança for maior, você pode questionar ela qual seria a solução para o problema. “O que você acha que pode ter acontecido que fez com que você derrubasse o suco? O podemos fazer para que isso não aconteça de novo?” Com o tempo, a criança já vai saber que a solução para o suco derrubado é limpar e fará isso sozinha. Procure deixar à disposição da criança um pano e água para que ela possa limpar.
A criança quer colocar o dedo na tomada:
Situações que envolvem crianças muito pequenas, é preciso fazer o redirecionamento e utilizar poucas palavras. “A tomada é perigosa. Você pode brincar aqui” e leve-a a algum lugar seguro. Quanto mais o ambiente estiver preparado para a criança menos situações como essa você vai viver no seu dia a dia. O que significa que haverá menos conflitos e isso é ótimo. Afinal, é cansativo passar o dia inteiro impedindo a criança de se machucar.
A criança jogou um brinquedo e quebrou algum objeto:
No caso de uma criança pequena, diga “Para jogar, nós usamos a bola” e entregue a bola para a criança. Assim, ela poderá praticar as habilidades sem prejuízos e em segurança. Se a situação envolver uma criança maior, diga: “Acredito que você esteja com vontade de brincar de jogar. O que podemos usar para arremessar e qual o melhor lugar para fazermos isso?” Espere que a criança responda que a bola é o brinquedo certo a ser usado e que o melhor lugar para que ela seja usada é no parquinho. Se você não puder ir ao parquinho no mesmo momento, pergunte: “vamos marcar uma data para ir ao parquinho? Quando você gostaria de ir?” Combine uma data que seja possível para você e continue a conversa. Pergunte o que a criança gostaria de fazer além de ir no parquinho que não envolva jogar os brinquedos. Se a criança não souber a resposta, diga: eu tenho certeza que você consegue pensar em algo muito divertido que não envolva jogar os brinquedos.
Converse com a criança sobre o objeto danificado e fale como você se sente. Notei que o vaso quebrou depois que o brinquedo bateu nele. Eu gostava muito desse vaso. O que podemos fazer para resolver isso? Acha justo tirarmos uma parte da sua mesada até que você pague um novo vaso?
Aqui é preciso fazer uma observação muito importante: pode ser que a criança volte a jogar o brinquedo. E aí, de forma firme e gentil, o adulto precisará intervir de forma diferente. Diga: “vou precisar guardar esse brinquedo até que você esteja pronto para brincar com ele de forma segura”. Em seguida, guarde o brinquedo. Se a criança chorar, acolha o choro. Diga que entende que ela está chateada, mas que aquele brinquedo não foi feito para jogar, e que ela pode jogar a bola se quiser.
Outro ponto que é preciso destacar é que todo comportamento é comunicação. Sendo assim, alguns desses maus comportamentos escondem outras questões ainda mais profundas que merecem atenção. Por isso é necessário que o adulto esteja sempre atento ao comportamento da criança para perceber se algumas atitudes são recorrentes. Pode ser que a forma que a criança encontrou de demonstrar cansaço seja através de jogar brinquedos, por exemplo. Isso também pode ser causado pela falta de atenção, pelo excesso de controle dos pais ou, até mesmo, alguma violência sofrida – física ou psicológica. Mas é preciso estar atento e mudar a rotina para encontrar a resposta.
Procure encorajar a criança e a convide a pensar em soluções.
A criança tirou nota baixa na escola ou está fazendo o dever de casa com uma letra que você considera feia
Muitos pais criticariam e puniriam a criança. Verifique se a criança não está com atividades demais e, por isso, fica cansado demais para prestar atenção nas matérias. Procure perguntar se a criança precisa se organizar melhor para colocar os seus estudos em dia. Combine um período para ajudar a criança nos estudos e diga que você estará disponível nesse horário. Nesse momento, peça para que a criança te explique o que aconteceu. É muito mais fácil aprender quando se ensina a outra pessoa. Acompanhe a vida escolar do seu filho e verifique se a criança é feliz na instituição. Muitas crianças respondem a um estresse vivido na escola ao se recusar fazer atividades, após apresentar notas baixas ou mudando seu comportamento em casa.
Usar o erro como oportunidade de aprendizado é um ensinamento tão importante que a Disciplina Positiva destaca de que forma isso pode ser usado pelos pais em qualquer situação. A disciplina Positiva acredita que a criança é parte da solução. Ao participar ativamente do processo, a criança se sente importante, passa a ter mais consciência dos seus atos e, no futuro, começa a melhorar seu comportamento.
A 1manas ajuda pais e responsáveis a educar de forma respeitosa através da Disciplina Positiva. Essa teoria contribui para que os cuidadores possam se concentrar em potencializar as habilidades dos nossos filhos e, no futuro, eles sejam capazes de solucionar problemas por conta própria.
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